ISSO É TÃO PAULISTA - II
Ai meu coração. Isso vai virar novela!!!!
Decidi, a pedidos de um amigo muito 10, fazer continuação pra história da Rebecca. Na primeira parte, 'ISSO É TÃO BLACK MIRROR', eu fui sintética com a personagem, e agora quero esmiuçar ela junto com quem tá lendo (hummm crise de estrelismo). Eu me vejo muito nela, e quem sabe pode ser uma maneira de me colocar mais presente ainda, de corpo e alma, nessa crônica que agora tá tomando outras proporções.
#orgulhodamamãe
I am never ever coming back
Findado o drama shakesperiano da minha ida à grande São Paulo, dormi um sono turbulento, regado de rancor e desilusões. Ainda assim, o domingo acordou da mesma forma que meu humor: ensolarado, vivaz, cheio de ânimo e de bem com a vida. Estiquei as pernas pela cama de solteiro, pensando seriamente no quão semelhantes elas estavam a um par de palmitos. Rindo dos meus próprios pensamentos, saltei de susto quando Manuela entrou desavisada no quarto de visitas, com a franja morena jogada por todo o seu rosto.
- Porra, xuxu. Divide a graça comigo! - disse ela, deitando comigo com a cara ainda amassada. Abracei a cabeça dela, fazendo-a esbugalhar os olhos e dar tapinhas desesperados nos meus braços.
- Ô, amiga, se eu não te esmagar a saudade não passa nunca.
- Ai! Louca! - coçou os olhos, para logo após lançar um olhar inquisitivo e cômico na minha direção, - E ai, Becca, quais são os planos pro nosso domingão? - beliscou minhas coxas por cima do short que estava vestindo, mania que carregava desde o ensino médio.
- A paulista aqui é você, garota! Me mudei dessa cidade há anos. - fechei os olhos, ainda sonolenta demais para planejar o restante do dia.
Inspirei agoniada de súbito, assustando Manu.
Inspirei agoniada de súbito, assustando Manu.
- Que é isso, minha filha? - falou com a mão no peito, quase tão dramática quanto eu.
- Fazem 5 anos, Manu! E você nem me fez uma visitinha! Nem parou lá no Rio pra turistar comigo, cobiçar os gringos, ir na feirinha de Ipanema comprar biju... que decepção, hein, Manuela Machado Mendonça.
- Não fala assim comigo, Rebecca Santoro Fernandes, você sabe que eu não posso viajar com a Margot.
- Ela é uma tartaruga, Manuela.
- Exatamente! Não existe hotelzinho de tartaruga, e ela não embarca!
- Aff. - abracei ela de novo, mais forte, e ela me derrubou no chão, com a barriga doendo de tanto rir.
E assim, de repente, pensei em tudo o que eu deixei pra trás quando levei comigo pro Rio de Janeiro só meu orgulho. Não foi só a Manu, a Margot, nosso apartamento, e o Jailton, zelador. Não foram só pessoas e lugares.
Eu me deixei em São Paulo. Naquela selva de pedra que eu aprendi a amar e odiar na mesma proporção. E que falta me fazia, acordar do lado de quem me ama, em um lugar que me instiga, com rostos conhecidos e completamente estranhos. Me fazia falta aquele cheiro ardido de poluição, as buzinas incessantes e até mesmo a falta de simpatia dos condôminos. Sentia falta de encher a boca e falar: bolacha. É bolacha, é porra, é meu, é ibira, é pingado.
Eu tenho consciência de que precisei sair de São Paulo. Chega um momento na vida de cada rebelde indomável que uma revolução interna e externa se faz necessária. Mas eu odeio mar. Eu não gosto mais de globo, não gosto mais de mate com limão. Olhar pro corcovado já não me acalma, e ver o pôr-do-sol na Urca não combina mais com meus domingos. O que eu quero agora é beber garapa até o cú fazer bico.
- Manu?
- Oi, Becca.
- Eu não volto mais pro Rio.
Maria Teresa Gonçalves
"... uma revolução externa e interna se faz necessária..." Achei magnífico isso, quero mais, muito maissssss! ❤
ResponderExcluirTeremos maisss Carolinda! Se prepara pra sua personagem!
Excluir