ISSO É TÃO INQUIETANTE - III
Um affair, um romance, um casinho, uma amizade colorida? Cenas do próximo capítulo. Beijos de luz.
O (re)encontro
Plim.
Plim.
Plim.
- Que merd... porra! Manu, vem cá! - encarei incrédula o aplicativo que apitava com as notícias do momento.
- Grita mais, Becca, ainda não ouviram em Osasco. - disse a mulher, a voz crescente conforme chegava na copa, onde eu estava prostrada na frente de um notebook há horas. - Fala, criatura.
- Delação, Manu, do Temer. Olha o dólar! Tá desvalorizando a porra toda, como é que eu vou vender meu apartamento?
- Ai, menina, que neura. Você é rica, relaxa. - riu da minha cara, me deixando ainda mais nervosa.
- Acorda, Manuela! Eu larguei meu emprego! - falei com fumaças já saindo pelas narinas. - Eu odeio política. Tá decidido.
- Essencial no curriculum de uma advogada: odiar política.
- Quanto mais eu a odeio, mais eu tenho vontade de mudá-la. - disse, com um sorriso egocêntrico pelo potencial filosófico da frase que fora capaz de formular.
- Vai pescar. - revirou os olhos, impaciente com minha autoestima. - Já achou um sócio em potencial?
- Até que achei, meu LinkedIn não decepciona. - grudei novamente os olhos no computador, analisando minusciosamente o rosto que me parecia familiar.
- Quem é? Bonitão, hein?! - lançou um olhar felino no rapaz da foto. Moreno, barba bem aparada, óculos de grife, terno Zegna que reconheceria de longe, e um olhar que já tinha se cruzado com o meu inúmeras vezes.
- Eu não sei. Mas me parece muito familiar. Rodrigo Veneroso... quem é você? - falei em tom inquisitivo, como se ele pudesse me responder através da tela do notebook.
- Começou a falar sozinha eu até saio de perto. Tô indo pro consultório, tchauzinho. - disse, estalando um beijo no casco da sua tartaruga e lançando um no ar pra mim.
- Tchau, fofa! Me liga! Vou almoçar com esse tal de Rodrigo. - Saiu porta afora, deixando para trás uma loira com cara de mendiga.
Fechei estrondosamente a tela do computador, me espreguiçando e sentindo dores no cóccix pelo tempo que passara sentada. Decidi tomar um banho caprichado, talvez até raspar as pernas. Se fosse algum rapaz do meu passado, queria que visse o quão bem sucedida e apta estava para montar um escritório em sociedade.
Bons 40 minutos se passaram desde que abri o registro do chuveiro, e nem minha consciência ambiental foi capaz de me tirar da inquietação que sentia. Dois motivos anuviavam minha mente - o primeiro, tinha certeza que conhecia o homem de algum momento da minha vida. Porém, meu juízo cresceu na mesma proporção que minha idade. Minha imagem profissional estava em risco iminente dependendo do período em que o possível sócio me conheceu. Não somente, era um salto de fé. Guardava dinheiro de anos de subordinação para abrir minha própria liga de advogados. Tudo podia dar errado.
Passando os olhos por Manolo Blahniks, Louboutins e Jimmy Choos ainda encaixotados, escolhi a sandália que mais representava minha personalidade. Um par de Choos acetinados, com drapeados que fazem a minha Carrie Bradshaw interior delirar. Delicados, porém ousados e impactantes. Ostensivos. Meu gosto pela moda nunca mudara- ainda que formada em Direito e apaixonada por minha profissão, grande parte do meu salário estava investido em vestimentas. Com certeza.
Cheguei pontualmente no restaurante do Itaim Bibi, me sentando na mesa combinada e respirando fundo para controlar o nervosismo. Batendo freneticamente o salto no assoalho de madeira, prestei atenção em todos os detalhes do restaurante, já irritada com o atraso do homem com quem faria negócios em breve. Cinco minutos depois, ou mais, sentou o indivíduo que me intrigava na cadeira à minha frente. Levantei demoradamente o olhar, colocando reparo em todos os detalhes que poderiam aguçar minha memória. Estendi a mão, a fim de apertá-las com firmeza, demonstrando responsabilidade e o ar de femme fatale que exalava de mim no momento. Ainda insegura, olhei-o nos olhos, me apresentando educadamente.
- Rebecca Santoro, prazer em conhecê-lo. - disse, mostrando o sorriso simpático que me garantia a atenção de maior parte das pessoas com que me relacionava.
- Não mudou nada.
- Perdão? - o encarei, tentando desvendar a subjetividade da sua afirmação. Me olhava com respeito, ainda assim, eu percebia claramente seu aspecto de predador. Naquele momento, era óbvio.
- Drama Queen, é uma afronta não ter me reconhecido. - aquele apelido infame, saindo melodiosamente da boca do advogado que me olhava curiosamente, trouxe do passado experiências que minguaram do meu pensamento anos atrás.
- Rodrigo, é impossível não te reconhecer.
Maria Teresa Gonçalves
Hmm... Apaixonadinha! ADOROOOOOOO 😘
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